domingo, 13 de março de 2011

Ai que gafe! (2/4)

edição 218 - Março 2011


Fonte: www.mentecerebro.com.br
A maioria das pessoas já pensou alguma vez: “teria sido melhor eu ter ficado calado”. mas quando o autocontrole falha, o melhor é não se aborrecer, pois quanto maior a tensão e o empenho para se comportar “bem”, mais aumenta o risco de dizer algo que cause constrangimentos
por Anna Gielas
[continuação]

MAIS DIFÍCIL

Segundo D. Wegner, os erros irônicos não se produzem somente durante a comunicação verbal, mas também no controle do movimento. Ele demonstrou esse processo em um trabalho desenvolvido em conjunto com seus colegas Matthew Ansfield e Daniel Pillof. Participantes do estudo foram divididos em duas equipes: os integrantes do primeiro grupo deviam impor determinada direção a um objeto. Os movimentos para outra direção eram estritamente proibidos. Simultaneamente, os voluntários que faziam parte do segundo grupo deviam fazer o mesmo, porém com o acréscimo da tarefa de contar de forma decrescente de três em três a partir do número 1000 (997, 994, 991 e assim por diante). Os cientistas perceberam que esses últimos levavam o objeto para a direção proibida muito mais frequentemente que as pessoas do primeiro grupo, cujas fontes cognitivas não estavam sendo utilizadas para uma segunda tarefa.


Os erros irônicos seriam cometidos também no esporte, pois a preocupação com o controle dos conteúdos cognitivos parece fazer diminuir a performance, segundo constatou a psicóloga Sian Beilock, da Universidade do Estado de Michigan. Pesquisadores de um grupo coordenado por ela observaram 126 iniciantes no golfe que tentavam lançar a bola em buraco muito próximo. Alguns participantes eram proibidos de pensar no lance antes de executá-lo, outros podiam fazê-lo. Os resultados mostram que a performance dos sujeitos impedidos de imaginar a ação foi em geral pior. O prejuízo no desempenho não pôde ser compensado com a experiência seguinte, quando os jogadores tiveram a autorização de imaginar o lance com antecedência.


Para entender melhor como a censura mental fracassa, tomando por base a cognição, D. Wegner e seus colegas solicitaram a voluntários que falassem durante três minutos, sem restrições, sobre qualquer tema que lhes viesse à cabeça. Em seguida, os participantes deveriam se concentrar em pensamentos ligados ao sexo e depois, novamente, reprimi-los. Enquanto isso, os psicólogos monitoravam as batidas cardíacas, sudorese e variações de temperatura por meio de eletrodos fixados na ponta dos dedos, para avaliar o estado emotivo dos participantes. A atividade fisiológica aumentava muito quando eles deviam evitar pensar em sexo.


As pessoas mais emotivas parecem ser as que pior suportam cometer gafe. Este temor explica em parte por que os fóbicos sociais se isolam. Para estas pessoas, possíveis erros tornam-se uma ameaça constante. Aquele que busca se liberar de problemas emocionais recalcando pensamentos negativos entra frequentemente em um círculo vicioso: tenta lutar contra os pensamentos negativos, mas por meio de um mecanismo parecido com aquele do urso branco acaba por se concentrar naquilo que gostaria de expulsar.

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