Por Maria Maura Fadel
As diferenças perturbam e assustam, mas é impossível evitar a conviência, nem essa é a ideia, afinal, é por meio do olhar do outro que nos construimos como humanos.
Será mesmo?
O filósofo francês Jean-Paul Sartre tinha mesmo razão?
A verdade é que, em algum nível, o outro sempre incomoda. O desconhecido, então, nem se fala. No trânsito, na fila, do lado de lá da linha oferecendo algum produto ou serviço do qual não precisamos. A relação com aqueles "outros" um pouco mais próximos como colegas de trabalho ou de classe, vizinhos, pessoas com quem convivemos quse diariamente por imposições circunstanciais também nem sempre é fácil. Afinal, ninguém duvida, por exemplo, que uma das partes mais complicadas de qualquer atividade profissional, muitas vezes, não é o trabalho em si, mas a convivência com colegas e chefes. Não raro, somos obrigados a passar muitas das preciosas horas do nosso dia bem perto de pessoas com quem jamais estaríamos sequer cinco minutos se isso dependesse exclusivamente de nossa vontade. Porém, na maioria dos casos de inevitável convívio social, vêm em nosso socorro as regras da boa educação, que funcionam como uma proteção, uma espécie de bálsamo que nos resguarde de desgastantes embates.
Por isso costuma ser tão importante lançar mão daquelas adoráveis palavrinhas que ajudam a manter de pé a civilização - com licença, por favor, obrigado, desculpe. Podem parecer meros vernizes sociais, mas por trás delas estão entrelaçados conceitos que nos separam (na medida em que explicitam necessidades individuais), protegendo-nos como se fossem redes de contenção e, ao mesmo tempo, nos aproximam de nossos semelhantes, pois permitem trocas em, alguns casos, até o reconhecimento do quanto, em essência, somos vulneráveis e parecidos uns com os outros.
Da revista Mente & Cérebro n° 215, dez/2010
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