quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O inferno são os outros (4/5)


Por Maria Maura Fadel


Será mesmo?


Em O mal-estar na cultura, escrito em 1930, Freud afirma que, de modo geral, as aspirações e realizações humanas estão vinculadas à sua utilidade ao ganho de prazer, o que vale também para as criações artísticas e descobertas científicas. Nesse artigo, o criador da psicanálise apresenta a tese de que a civilização (ou cultura, o autor não distingue uma da outra) produz desconforto, pois para que a sociedade possa se desenvolver o indivíduo precisa renunciar à satisfação sexual e à agressividade - já que trocas e encontros tanto sociais quanto afetivos são regulamentados e obedecem a normas.

Nas mais diversas relações é praticamente impossível livrar-se de exigências e ideais, desvinculando os aspectos próprios da cultura daqueles que pertencem especificamente ao indivíduo.

Na prática, não podemos fugir de um fato: o outro (os outros todos, aliás, não importa que rosto tenham) perturba, irrita. As diferenças assustam. Mas também é impossível evitar a convivência (e nem essa é a ideia). Afinal, é justamente por meio do olhar do outro que nos constituímos como humanos. Somos mães ou pais, porque existe (ou existiu em algum momento) um filho; somos filhos porque tivemos pais, irmãos porque temos irmãos.

Da revista Mente & Cérebro n° 215, dez/2010

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