quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Obesidade Mental



Publicado em 13-Dec-2010, por Gustavo Rocha



O prof. Andrew Oitke, catedrático de Antropologia em Harvard, publicou em 2001 o seu polêmico livro “Mental Obesity”, que revolucionou os campos da educação, jornalismo e relações sociais em geral.
Nessa obra introduziu o conceito em epígrafe para descrever o que considerava o pior problema da sociedade moderna. Há apenas algumas décadas, a Humanidade tomou consciência dos perigos do excesso de gordura física decorrente de uma alimentação desregrada. É hora de refletir sobre os nossos abusos no campo da informação e do conhecimento, que parecem estar dando origem a problemas tão ou mais sérios do que a barriga proeminente. ”
Segundo o autor, “a nossa sociedade está mais sobrecarregada de preconceitos do que de proteínas; e mais intoxicada de lugares-comuns do que de hidratos de carbono.
As pessoas se viciaram em estereótipos, em juízos apressados, em ensinamentos tacanhos e em condenações precipitadas. Todos têm opinião sobre tudo, mas não conhecem nada. ”
“Os ‘cozinheiros’ desta magna “fast food” intelectual são os jornalistas, os articulistas, os editorialistas, os romancistas, os falsos filósofos, os autores de telenovelas e mais uma infinidade de outros chamados ‘profissionais da informação’”.
“Os telejornais e telenovelas estão se transformando nos hamburgers do espírito. As revistas de variedades e os livros de venda fácil são os “donuts” da imaginação. Os filmes se transformaram na pizza da sensatez.”
“O problema central está na família e na escola”.
“Qualquer pai responsável sabe que os seus filhos ficarão doentes se abusarem dos doces e chocolates. Não se entende, então, como aceitam que a dieta mental das crianças seja composta por desenhos animados, por videojogos que se aperfeiçoam em estimular a violência e por telenovelas que exploram, desmesuradamente, a sexualidade, estimulando, cada vez com maior ênfase, a desagregação familiar, a permissividade e, não raro, a promiscuidade. Com uma ‘alimentação intelectual’ tão carregada de adrenalina, romance, violência e emoção, é possível supor que esses jovens jamais conseguirão viver uma vida saudável e regular”.
Um dos capítulos mais polêmicos e contundentes da obra, intitulado “Os abutres”, afirma: “O jornalista alimenta-se, hoje, quase que exclusivamente de cadáveres de reputações, de detritos de escândalos, e de restos mortais das realizações humanas. A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular.”
O texto descreve como os “jornalistas e comunicadores em geral se desinteressam da realidade fervilhante, para se centrarem apenas no lado polêmico e chocante”.
“Só a parte morta e apodrecida ou distorcida da realidade é que chega aos jornais.”

“O conhecimento das pessoas aumentou, mas é feito de banalidades. Todos sabem que Kennedy foi assassinado, mas não sabem quem foi Kennedy. Todos dizem que a Capela Sistina tem teto, mas ninguém suspeita para quê ela serve. Todos acham mais cômodo acreditar que Saddam é o mau e Mandella é o bom, mas ninguém se preocupa em questionar o que lhes é empurrado goela abaixo como “informação”.
Todos conhecem que Pitágoras tem um teorema, mas ignoram o que é um “cateto.”
Prossegue o autor: “Não admira que, no meio da prosperidade e da abundância, as grandes realizações do espírito humano estejam em decadência. A família é contestada, a tradição esquecida, a religião abandonada, a cultura banalizou-se e o folclore virou ‘mico’. A arte é fútil, paradoxal ou doentia. Floresce, entretanto, a pornografia, o cabotinismo (aquele que se elogia), a imitação, a sensaboria (sem sabor) e o egoísmo. Não se trata nem de uma era em decadência, nem de uma ‘idade das trevas’ e nem do fim da civilização, como tantos apregoam. Trata-se, na realidade, de uma questão de obesidade que vem sendo induzida, sutilmente, no espírito e na mente humana. O homem moderno está adiposo no raciocínio, nos gostos e nos sentimentos. O mundo não precisa de reformas, desenvolvimento, progressos. Precisa sobretudo de dieta mental.”
*Retirado do portal Mercado Ético (http://mercadoetico.terra.com.br/) e publicado originalmente no Blog Teoria da Conspiração – O Que Eles não gostariam que você soubesse… (http://www.deldebbio.com.br/)
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Muito interessante este artigo não?
Quantas vezes afirmamos que o Google resolve e salva?
Quantas vezes afirmamos que tudo está na internet?
Quantas vezes afirmamos que nosso trabalho ficou banal porque qualquer um acha o que quiser na web?
Será mesmo?
A maior batalha deste século será a da informação. Não da falta de, mas da sobra de informação.
Temos muito sobre tudo e portanto, quase nada claro, direto e objetivo.
Queres achar algo sobre Tiradentes? Simples, fácil. Mas, encontrarás desde a história contada nos livros, como estórias contadas de teorias da conspiração.
E como separar o joio do trigo? Como mostrar o que é certo e o que é errado?
Ensinando a pensar.
Ensinando que antes de teoremas, fórmulas, etc, existiu pessoas que pensaram em soluções de problemas que cabiam estes teoremas e fórmulas.
Ensinar a pensar significa deixar a pessoa concluir, dar oportunidades de liberdade de pensamento e ofertar as pessoas a verem pontos diferentes de vista.
E afinal, o que tem a ver este texto e reflexões com gestão e tecnologia?
Bem, sem pensar, não há como exercer a gestão. A tecnologia sem raciocínio é mera cópia, é ctrl C, ctrl V, é nula.
Ou se aprende a raciocinar e pensar, distinguindo a verdade da ilusão, ou qualquer negócio está fadado a ser mais um, sem diferenciais de mercado, sem qualquer brilho próprio.
É no material humano que encontramos as diferenças entre as grandes empresas.
Aposte nele!


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Artigo escrito por Gustavo Rocha – Diretor da Consultoria GestaoAdvBr
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Publicado no site: www.gestopole.com.br

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