quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Mentes em Movimento (2)


[ continuação ]

Saltos e autoestima

De maneira geral, a sociedade ocidental não atribui grande valor ao exercício para o desenvolvimento infantil. Adultos costumam fazer as crianças desde pequenas ficar sentadas e quietas em vez de correr por aí, a se concentrar, no lugar de pular de um lado para outro. A televisão, o computador e os videogames também colaboram para tirar dos pequenos a vontade natural de se movimentar.
Com isso, aparecem prejuízos primeiramente para o estado geral de saúde, com o surgimento de problemas posturais e obesidade, por exemplo. O corpo e o psiquismo podem não amadurecerem independentemente - como uma função motora desenvolvida de forma insuficiente, por exemplo, pode frear o intelecto, pois, quanto mais segura a criança está ao explorar seu ambiente, mais facilmente absorve novos estímulos. Dessa forma, subir nas coisas, saltar e correr marca o início de um ciclo que reforça a si mesmo.
Um estudo coordenado pelo pesquisador Charles Hillman, da Universidade de Illinois, em Urgana-Champaign, e publicado em 2008 mostra que crianças que se movimentam mais, em geral, obtêm melhores notas na escola. O desempenho em cálculo ou leitura, por exemplo, aumenta proporcionalmente à atividade física. No entanto, podemos perguntr aqui, com razão, o que determina esse resultado: será que pais que apoiam mais seus filhos em questões escolares também os estimulam mais a praticar esportes? A correlação entre valores estatísticos, porém, não revela nada sobre motivos mais profundos.
O pesquisador Phillip Tomporowski, da Universidade da Geórgia, também confirmou que o bom condiconamento físico de crianças é acompanhado de melhores resultados escolares. No entanto, ainda não é possível demonstrar experimentalmente a influência do esporte sobre o desempenho cognitivo. O que se sabe é que nem toda prática esportiva estimula a capacidade intelectual. O condicionamento aeróbico por meio de atividade muscular moderada costuma ser considerado frutífero, assim como treinamentos de força parecem reforçar a capacidade de planejar e coordenar ações - em resumo, aquilo que chamamos "capacidades executivas".
Outro grande grupo de estudos, no qual em geral são utilizados camundongos e ratos, defende que a atividade física prepara a mente para o aprendizado. Experimentos para testar o efeito de treinamentos físicos sobre o cérebro de roedores remontam aos anos 60. A neurobióloga Marian Diamond, da Universidade da Califórnia em Berkeley, hoje com 78 anos, foi considerada pioneira nessa área. Ela criou animais em "ambientes enriquecidos", gaiolas cheias de "brinquedos", onde as cobaias eram constantemente estimuladas de forma lúdica. Entre os roedores, as rodas de exercícios são as preferidas, eles percorrem, sem dificuldade, cinco a seis quilômetros por dia.

Da revista Mente & Cérebro n° 211, agosto/2010

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