domingo, 22 de agosto de 2010
Mentes em Movimento (8)
Epigenética e Cura
No caso de quadros de ansiedade e depressão a prática esportiva favorece a recuperação do controle sobre a própria vida, ajuda a pessoa a voltar a fazer algo por si mesma e a desfrutar de um lugar no grupo de treinamento. Ao que tudo indica, a prática regular diminui o risco de recaídas. Dez meses após o término do programa esportivo do estudo de Blumenthal, menos participantes retomaram o tratamento, em comparação com o grupo que recebeu medicamentos. Isso ocorreu principalmente quando os pacientes lcontinuaram se exercitanto de maneira regular depois do fim do experimento.
No entanto, independentemente das condições psíquicas, os efeitos positivos do exercício podem ser comprovados. A palavra mágica é "epigenética". Ela designa o complexo processo no interior das células que determina qual informação genética será lida em que momento e transformada em novas proteínas e substâncias mensageiras. Essas modulações genéticas também ajudam a determinar se - e quantos - novos receptores, ligações sinápticas e neurônios devem surgir, inclusive no cérebro saudável.
Hoje se sabe que a atividade física influencia a ativação e desativação de mais de 500 genes. Isso foi demonstrado pelos pesquisadores James Timmons e Carl Sundberg, do Instituto Karolinska, de Estocolmo, quando eles "receitaram" exercícios ergométricos a um grupo de homens jovens.
O neurobiólogo molecular Jeff Lichtman, da Universidade Harvard, comprovou em 1999 a rapidez com que alterações neuronais podem ocorrer. O pesquisador injetou uma tinta especial fluorescente no tecido intacto de cobaias, e assim puderam ser marcadas moléculas receptoras na membrana de células neurais e musculares às quais se conecta a acetilcolina, uma substância mensageira que transmite ordens de movimentação para as junções sinápticas, os locais de ligação entre o nervo e o músculo. O cientista esperava que uma estimulação artificial das transmissões de sinais levasse a alterações após alguns dias ou semanas, mas a densidade dos receptores aumentou muito após poucas horas.
Em outro estudo, um grupo coordenado pela médica Ana Pereira, da Universidade Columbia, em Nova York, selecionou voluntários saudáveis com idade entre 21 e 45 anos, com pouco contato com esportes. Após a realização de um teste de memória e de uma tomografia por ressonãncia magnética (TRM), iniciou-se o treinamento na esteira ou na bicicleta na academia da própria universidade quatro vezes por semana, durante uma hora, por três meses. Depois desse período, os candidatos repetiram os testes de memória e resistência física, assim como o exame do cérebro. O hipocampo, importante para a capacidade mnemônica, passou a ter melhor circulação sanguínea, e os afetados tiveram pontuação mais alta nos experimentos de aprendizado.
Da revista Mente & Cérebro n° 211, agosto/2010
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