terça-feira, 10 de agosto de 2010

Mentes em Movimento (4)


[ continuação ]

Pesquisas com animais indicam que principalmente o hipocampo, que funciona como uma central de aprendizagem e memória, é a área que mais tira proveito da melhor circulação sanguínea no cérebro e da produção desse "hardware" neuronal. Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Xangai com ratos de 5 semanas de idade e publicado em 2008 indicou que exercícios como caminhada moderada influenciam principalmente o giro dentado, um importante segmento do hipocampo. Uma quantidade elevada de substâncias mensageiras, como ofator de crescimento vascular (VGF, na sigla vascular growth factor) e o fator neurotrófico derivado do encéfalo (BDNF, brain derived neurotrophic factor), levou ao processo denominado neurogênese, que nada mais é que o crescimento de novas células neurais. Porém, o exagero dessa atividade benéfica teve efeito limitante: com excesso de corrida, a função construtora no cérebro dos roedores recrudescia.
Surgem, no entanto, questões inevitáveis: informações obtidas com animais podem ser transferidas para seres humanos? Será que o exercício é bom para crianças apenas porque o córtex de "ratos esportistas" é mais grosso e tem melhor circulação sanguínea? Os processo cerebrais são, em princípio, os mesmos em roedores e humanos. Portanto, parece óbvio que mecanismos semelhantes desencadeiem resultados similares. No caso de pessoas, no entanto, acrescentam-se inúmeros aspectos emocionais e interpessoais.
Se no início da vida é crucial o desenvolvimento do repertório motor, da linguagem e do pensamento, com o passar do tempo surgem outras prioridades, como adquirir competências sociais, testar os próprios limites e construir a autoconfiança por meio de vivências bem-sucedidas. Isso também pode ser facilitado pelo exercício.
Vários estudos já comprovaram que a atividade física eleva a sensação de bem-estar. Em um trabalho recente, a pesquisadora Karen Petty, colega de Tomporowski, comparou, por meio de questionário, a autoestima e o estado de espírito de adolescentes com sobrepeso antes e depois de um programa de treinamento de várias semanas. Resultado: no final, os participantes se mostravam mais animados, satisfeitos consigo mesmos e com uma autoimagem mais positiva.

Da revista Mente & Cérebro n° 211, agosto/2010

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